sexta-feira, 25 de abril de 2008

Asana ou alongamento?

स्थिर सुखम् असनम्

sthira sukham asanam

O quadragesimo sexto aforismo do Sadhana Pada do Yoga Sutra de Patanjali nao deixa duvidas - asana, ou seja, o assento, deve ser firme (sthira) e confortavel (sukham). Encontrando-se em qualquer um deles, seja em um simples paschimottanasana ou em qualquer outro considerado mais delicado, como o setubandhasana, a atitude interna de um praticante consciente deve ser sempre a mesma: conforto e estabilidade.

Não e segredo a quase ninguem que o objetivo das praticas de yoga consiste em levar seu praticante ao estado sutil de meditacao, e atraves dela atingir niveis cada vez mais intensos e profundos de samadih, libertacao ou mesmo uniao a energia eteria. Porem, para se conseguir exito em meditacao e necessario ficar por um longo tempo, muitas vezes horas, numa postura imovel. Mas quando um iniciante senta para meditar ele logo percebe a dificuldade em permanecer quieto. Dores musculares, agitacao mental, ansiedade, são apenas alguns dos obstaculos encontrados. A tradicao do Yoga afirma que esses obstaculos advem de toxinas acumuladas no corpo fisico, emocional e mental – toxinas adquiridas pela alimentacao errada, por pensamentos e atitudes pouco construtivas.

Entao como conseguir um corpo estavel e tranquilo? O Hatha Yoga surgiu como um metodo para solucionar este problema. Trabalhando corpo e mente em diversas posturas, e desta forma limpando o organismo de impurezas, com o tempo fica facil sentar e meditar com propriedade. Swami Satchidananda comenta: “A fim de conseguirmos tal postura meditativa, podemos exercitar muitas poses culturalmente adotadas como preliminares. Eis por que foi criado o Hatha Yoga” ( comentarios do Yoga Sutra – pag. 156).

Desta forma, não importa muito a modalidade ou estilo de Hatha Yoga que o praticante escolheu como sua pratica pessoal. Seja ele baseado em sequencias intensas de asana como o Ashtanga Vinyasa e Power Yoga, ou mesmo outras praticas com menos intensidade e longas permanencias, o objetivo sera sempre o mesmo: preparar o corpo para os proximos membros do Ashtanga Yoga descrito por Patanjali. Com o corpo flexivel livre de toxinas, com a mente focada livre de grandes vacilacoes, tem-se o dominio da postura, do assento e assim se estara pronto para experimentar os beneficios da concentracao intensa e depois da meditacao propriamente dita, adquirindo-se desta maneira uma atitude firme, livre das confusoes geradas por dualidades. Em seu comentario Desikachar afirma: “Praticas como a de asana comecam a corrigir as consequencias prejudiciais dos obstaculos no nivel do corpo. O bem-estar assim desenvolvido nos abre para a possibilidade de uma maior compreensao sobre nos mesmos” (O Coracao do Yoga pag. 264/265).

Asana não e um fim em si mesmo. As posturas do Yoga, tao difundidas por sua beleza plastica, não fazem parte de um sistema de ginastica indiano, ou de algum tipo de campeonato de alongamento. Fazem sim, parte de um sistema milenar passado de mestre para dissipulo que visa levar seu aspirante a estados de conciencia mais requintados, tornando-o tranquilo, disciplinado e, finalmente, impavido.

Ciro Ricardo

Florianópolis, 25 de abril de 2008.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

sobre a velhice

"E o momento em que o homem nao tem mais receios, nao tem mais impaciencias de clareza de espirito... um momento em que todo seu poder esta controlado, mas tambem o momento em que ele sente um desejo irresistivel de descansar. Se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, tera perdido o ultimo round, e seu inimigo o reduzira a uma criatura velha e debil. Seu desejo de se retirar dominara toda sua clareza, seu poder e sabedoria.

Mas se o homem sacode sua fadiga, e vive seu destino completamente, entao podera ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra seu ultimo inimigo invencivel. Esse momento de clareza, poder e conhecimento e o suficiente".


A Erva do Diabo - Carlos Castaneda (p.86)

sobre o poder

"O poder e o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais facil e ceder; afinal de contas, o homem e realmente invencivel. Ele comanda; comeca correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque e um senhor.

Um homem nesse estagio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando. E de repente, sem saber, certamente tera perdido a batalha. Seu inimigo o tera transformado num homem cruel e caprichoso.

- E ele perdera o poder?
- Nao, ele nunca perdera sua clareza nem seu poder.
- Entao o que o distinguara de um homem de conhecimento?
- Um homem que e derrotado pelo poder morre sem realmente saber maneja-lo. O poder e apenas uma carga em seu destino. Um homem desses nao tem dominio sobre si, e nao sabe quando ou como usar seu poder.
- A derrota por algum desses inimigos e uma derrota final?
- Claro que e final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem, nao ha nada que ele possa fazer.
- Sera possivel, por exemplo, que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?
- Nao. Uma vez que o homem cede, esta liquidado.
- Mas, e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?
- Isso significa que a batalha continua. Isso significa que ele ainda esta tentando ser um homem de conhecimento. O individuo e derrotado quando nao tenta mais e se abandona.
- Mas entao, Dom Juan, sera possivel que um homem se entregue ao medo durante anos, mas que no fim ele o venca.
- Nao, isso nao e verdade. Se ele ceder ao medo, nunca mais o vencera, porque se desviara do conhecimento e nunca mais tentara. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabara dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.
- E como o homem pode vencer ser terceiro inimigo, Dom Juan?
- Tambem tem de desafia-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca e seu. Deve controlar-se em todas as ocasioes, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem seu controle sobre si, sao piores do que os erros, ele chegara a um ponto em que tudo esta controlado. Entao, sabera quando e como usar seu poder. E assim tera derrotado seu terceiro inimigo.

O homem estara, entao, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrara seu ultimo inimigo: a Velhice! Este inimigo e o mais cruel de todos, o unico que elenao conseguira derrotar completamente, mas apenas afastar".


A Erva do Diabo - Carlos Castaneda (p.84 - 86)

sobre a clareza

"E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espirito, que e tao dificil de obter, elimina o medo, mas tambem cega.

Obriga o homem a nunca duvidar de si. Da-lhe a seguranca de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele ve tudo claramente. E ele e corajoso porque e claro e nao para diante de nada porque e claro. Mas tudo isso e um engano; e como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz-de-conta, sucumbiu a seu segundo inimigo e tateara com a aprendizagem ate acabar incapaz de aprender mais qualquer coisa.

- O que acontece com um homem que e derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?

- Nao, nao morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disso, o homem pode tornar-se um guerreiro valente, ou um palhaco. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tao caro, nunca mais se transformara de novo em trevas ou medo. Sera claro enquanto viver, mas nao aprendera nem desejara nada.

- Mas o que tem de fazer para nao ser vencido?

- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usa-la so para ver, e esperar com paciencia e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza e quase um erro. E vira um momento em que ele compreendera que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele tera vencido seu segundo inimigo, e estara numa posicao em que nada mais o podera prejudica-lo. Isso nao sera um engano. Nao sera um ponto diante da vista. Sera o verdadeiro poder.

Ele sabera a essa altura que o poder que vem buscando ha tanto tempo e seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado esta as suas ordens. Seu desejo e a ordem. Ve tudo o que esta em volta. Mas tambem encontrou seu terceiro inimigo: o Poder!"


A Erva do Diabo - Carlos Castaneda ( p.85)

sobre o medo

Domingo, 15 de abril de 1962

Quando eu estava me preparando para partir, tornei a lhe perguntar acerca dos inimigos do homem de conhecimento. Argumentei que ia passar algum tempo sem voltar, e que seria uma boa ideia escrever as coisas que ele tivesse a dizer e pensar a respeito enquanto estivesse fora. Hesitou um pouco, mas depois comecou a falar:

- Quando um homem comeca a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais seus objetivos. Seu proposito e falho; sua intensao, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarao, pois nao conhece nada das dificuldades da aprendizagem.

"Devagar, ele comeca a aprender ... a principio, pouco a pouco, e depois em porcoes grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca e o que ele imaginava, de modo que comeca a ter medo. Aprender nunca e o que se espera. Cada passo da aprendizagem e uma nova tarefa, e o medo que o homem sente comeca a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu proposito torna-se um campo de batalha."

"E assim ele se deparou com o primeiro de seus inimigos naturais: o Medo! Um inimigo terrivel, traicoeiro, e dificil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, a espreita. E se o homem, apavorado com sua presenca, foge, seu inimigo tera posto um fim a sua busca".

- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?
- Nada lhe acontece, a nao ser que nunca aprendera. Nunca se tornara um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma, sera um homem vencido. Seu primeiro inimigo tera posto um fim a seus desejos.
- E o que pode ele fazer para vencer o medo?
- A resposta e muito simples. Nao deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto nao deve parar. E esta a regra! E o momento chegara em que seu primeiro inimigo recua. O homem comeca a se sentir seguro de si. Seu proposito torna-se mais forte. Aprender nao e mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.
- Isso acontece de uma vez, Dom Juan, ou aos poucos?
- Acontece aos poucos e no entanto o medo e vencido de repente e depressa.
- Mas o homem nao tera medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?
- Nao. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu a clareza... uma clareza de espirito que apaga o medo. Entao, o homem ja conhece seus desejos; sabe como satisfaze-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada lhe oculta.

A Erva do Diabo - Carlos Castaneda (p.82 - 84)

terça-feira, 8 de abril de 2008

seMpRE CeRtO Na ContrAMaO

Carrego pr'onde vouO peso do meu som
Lotando minha bagagemMeu maracatu pesa uma tonelada de surdezE pede passagemMeu maracatu pesa uma tonelada...Sempre foi atômico Agora biônico, eletro-soulsônicoAlterando as batidas No azougue pesado Em ritmo crônicoTropa de todos os baques existentesDe longe tremendo e rachando os batentesMutante até lá adiantePois a zoada se escuta distanteLevando o baque do trovãoSempre certo na contramãoCarrego pr'onde vou O peso do meu somLotando minha bagagemMeu maracatu pesa uma tonelada de surdez E pede passagemMeu maracatu pesa uma tonelada

trovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramãotrovãoSempre certo na contramão

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Alem ... a plenitude

"Ha algo para alem da nossa consciencia e que habita em silencio nela. E o supremo misterio que ultrapassa o pensamento. Apoiai a vossa consciencia e o vosso corpo sutil nesse algo e nao mais o apoies em nenhuma outra coisa."

Maitri Upanishad, VI:19