O sonho de valsa é uma unidade indivisível da matéria. Sério cara! Como o átomo, se o cidadão insistir em dividi-lo as consequências podem ser explosivas.
Imagina a cena, malandro tá no trabalho, fundindo a cuca para entregar aquele maldito relatório no prazo, quase sempre curto demais que o patrão, ou melhor, o sinhô estipulou. Lá pelas tantas já com a vista embaralhada, ele resolve dar um tempinho e vai até a lanchonete do terceiro andar para dar uma esticadinha na canela, desanuviar os pensamentos e quem sabe, se der sorte, trocar dois dedos de prosa com a simpática balconista do estabelicimento. Discretamente nosso funcionário padrão espreguiça o esqueleto, faz uma piadinha sem graça com o colega da mesa ao lado e sem muita pressa se dirige ao corredor, depois as escadas (porque de elevador é rápido demais) até finalmente chegar ao oasis das guloseimas entupidoras de veias. Nessa toada ele abaixa seu corpanzil para escolher melhor entre os salgados da estufa.
"- Ô Vanderlei, você de novo por aqui cara? Eu só dou azar mesmo! Você demitiu a Carol é? Já que é assim eu vou caprichar... Me vê um empanado de palmito, um suquinho de laranja sem açucar e um pãozinho de queijo para começar". Sem ligar muito para a provocação Seu Vanderlei separa o pedido e deixa com um pouco de desleixo em cima do balcão: "Tá aí campeão..." Com o olho brilhando e a boca salivando o responsável pelo setor administrativo faz seu sagrado lanchinho vespertino com toda poesia que se pode esperar de um momento como este. Pura magia! Como todo ritual sagrado que se prese, existe o momento do ápice, aquele instante de oferenda, êxtase: "Ô Vanderlei meu amigo, faz uma caridade para o seu brother de caminhada, me ajeita um cafezinho purinho e também um sonho de valsa para adocicar minhas idéias". Em menos de trinta segundos já está tudo arrumado, afinal a lanchonete pode ser pequena, mas o atendimento é de primeira.
Ahhh o café... Instante ímpar para aquele senhor de meia idade. E após o amargo, o doce, é claro! Olhar fixo na embalagem rosa que o acompanha desde a infância. A sensação do plástico desenrolando entre o indicador e o polegar de cada mão, o cheiro aguça os sentidos, a cor marrom, o chocolate começando a derreter, o verdadeiro prazer químico, o amor em pedaços... Eis que surge Dona Ruth! E com sua voz de cigarro faz o pedido infernal: "Oi querido, que bom te ver por aqui! Hmmm, que delícia esse sonho de valsa, me dá um pedacinho?!"
(Pausa para assimilar tamanha crueldade)
Como pedem a etiqueta e as boas maneiras, Gilson não pôde dizer não, mesmo que internamente o deseja com todas suas forças. Lá se foi o bombom para a boca de Dona Ruth. Três quartos a bem dizer. O que voltou foi um restolho esmigalhado, sem vida. Uma verdadeira tristeza.
Ao leitor fica o pedido de desculpas. Poderiamos aqui desenvolver uma conclusão lógica, baseada em conceitos filosóficos do oriente, coisas profundas da alma. Mas acreditamos que isso não se faz necessário. Fica aqui um pedido sincero: não parasite os momentos especiais de outros, não queira viver o que não é seu, não use da boa fé alheia para conseguir objetivos mesquinhos. Pense no nosso personagem acima. É de dar dó. não é? Situação dificil viu...
4 comentários:
Bem, eu, abestada que só, divido meu sonho de valsa... Mas para as outras coisas, divido não... Ponho pé firme!!! rss...
E "cadiquê" meu outro comentário foi excluído, hein, seu Ciro?? Humpf.
Beijocas mesmo assim!
uai... o comentário continua lá!
:S
fala para o gilson pedir um lance na próxima.
=)
ueiheiueheiuheiuehiue
da-lhe Melissa!
:)))
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