Comecei a tocar violão na mesma época em que meus primeiros fios de barba começaram a aparecer. Lembro um dia, indo para a escola de carona com meus pais pensei comigo: "Ainda vou aprender a tocar algum instrumento". Não demorou muito e já estava numa aulinha lá no centro de goiânia para aprender os primeiros acordes. Quem toca sabe, no inicio os dedos não funcionam muito bem, e logo vem uma dor nos dedos de tanto ficar apertando aquelas cordas de nylon.
"É que você ainda não criou calos nas pontas dos dedos" - dizia meu professor. Ouvi aquilo e acreditei no cara. Para todo lugar que eu ia sempre levava a viola a tira colo, e com o tempo logo os calos surgiram, e quando exagerava umas bolhas de sangue também. Nada que fosse me matar, era apenas meu corpo se acostumando com o novo esforço, a nova maneira de trabalha-lo.
Os anos se passaram, continuei tocando, as vezes mais, as vezes menos, mas sempre tocando. Com passar do tempo me aproximei do yoga e quando dei por mim estava sentado no tapetinho emborrachado de prática, olhando para as partes desgastadas do mesmo e pensando: "Você ainda não consegue fazer esse asana com tranquilidade porque ainda nao criou 'calo no dedo'..." Como na música, a prática trazia os mesmos desafios, ser constante e ter compromisso até o corpo e a mente se acostumarem com a novidade. Até o corpo e a mente se sentirem a vontade para relaxar no que está sendo proposto. Até você conseguir superar tranquilamente e sem pressa as dificuldades que naturalmente surgirem.
Na música, depois que se tem o calo criado, você pode tocar por horas, esmiuçar o instrumento, fazer acordes acrobáticos, que mesmo assim tudo flui na cadencia da canção executada. No Yoga acontece algo semelhante, no asanas, nos pranayamas, em meditação. Quem nunca se deparou com alguma prática meditativa na qual a mente teima em não relaxar, em não se centrar no que é proposto, mas que depois de alguma insistência e um pouco de paciencia tudo parece encontrar seu espaço e seu momento para ser e acontecer. A prática constante dá resultado, e não precisa ser musico, yogui, ou qualquer sábio para chegar a essa conclusão. Em qualquer situação do dia a dia, em qualquer lugar, nas situações mais adversas, a prática somada a uma boa orientação é o melhor caminho para se dominar o que está sendo estudado.
4 comentários:
Mais uma aula de Ciro, seu texto tem uma beleza plástica, parece um quadro ou uma música e a mensagem essa sim é uma música, principalmente para esses meus dias de prática cotidiana em que me aventuro sozinho pelas estradas de mim mesmo.
Hari Om!
Obrigado pelas inspiradas palavras Aluisio. Valeu mesmo! Um grande abraço e até a próxima.
ando me propondo a praticar ambos. disciplina, cadê vc?
O retiro foi ótimo hein?! Ciro, os textos estão inspirados e transparecendo, parabéns. Pára não! bjo
Uma vêz o Renato Russo falou que tocava em notas simples para que todo mundo pudesse também cantar suas musicas, vejo essa similaridade nos mantras. Toco sem almejar palcos, mas adoro cantá-los para meus alunos... É MEDITAÇÃO PURA.
"namastê"
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