sábado, 6 de junho de 2009

O simples objetivo

Muito se fala sobre os objetivos maiores, mais profundos, ou mesmo, as verdadeiras metas do Yoga em livros, aulas e palestras. Professores preocupados em transmitir essa tradição de forma fiel ao que lhes foi ensinado apontam para o conceito de libertação, de moksa, como o alvo que o yoguin deve atingir.

Partindo do denso para o sutil, como já sabemos, o estudante deve por seu corpo a prova executando asana, elevar seu nível de energia respirando nos pranayama, procurar adaptar seu estilo de vida ao que é sugerido nos conceitos apresentados nos yama e niyama. A partir daí o caminho mais interno, mais sutil, desta cultura milenar se abre de forma mais clara. Retrair os sentidos e focar a mente num único ponto até que essa concentração seja absoluta e contínua. Eis de fato uma prática completa de Yoga.

Os frutos em se superar caminho tão estreito e disciplinador são belos e estimulantes. Conhecer sua verdadeira natureza, conhecer o Ser, aquele que tudo permeia e a nada pertence, aquele que não é palpável, porém do qual fazemos parte como um todo absoluto. Não existe tesouro maior para um ser humano receber.

Contudo muitos não irão tão longe em suas práticas, muitos nem mesmo a começarão! Boa parte ficará perdida no labirinto do ego, acreditando em verdades tão confiáveis quanto anúncios de televisão. Outra parte terá como objetivo maior a elasticidade, a plástica dos asana, a vitalidade dos pranayama. O restante, que passou pelo funil, ainda percorrerá por desafios maiores. Acreditar que uma mente focada e extremamente sagaz seria a liberdade, e não perceber que um grande poder focado em motivações pouco nobres ou mesmo egoístas certamente causarão grande estrago para o praticante e também para outros.

Superar, deixar de lado, ter o poder nas mãos e com a humildade celebrada por nobres santos de desfazer do que poderia ser uma arma perigosa. Como um presidente de uma grande nação, como o herdeiro multimilionário que teria o mundo ao seus pés e mesmo assim procura adequar sua vida a um bem maior, o verdadeiro yogi supera a si mesmo provavelmente na maior prova de austeridade conhecida pela humanidade e, ao final, depara-se com a derradeira questão: se apegar a sua própria grandiosidade ou diluir-se no amor infinito do Ser primordial?

De cara ao espelho, como um narciso as avessas, este supremo praticante esta prestes a realizar o ato cabal de sua existência. Sair como a estrela do espetáculo para receber os louros e fama de um artista internacional? Ao fim, o oposto se realiza. Ele sai pelos fundos, horas depois do último espectador do espetáculo chamado vida, como um humilde faxineiro que encara seu rotineiro, pacato e árduo trabalho com naturalidade, e que acima de tudo tem a suprema consciência que tudo esta relacionado, sendo cada faceta do mesmo rosto importante e essencial como a face supostamente mais bela.

*artigo também disponível em www.yoga.pro.br

Um comentário:

Rodrigo G. Ferreira disse...

Gostei muito do seu texto, Ciro! Parabéns e obrigado por escrevê-lo.